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quinta-feira, 3 de março de 2011

História do paranaense que perdeu os dois braços e se tornou um palestrante de sucesso



Natural de Londrina (PR), ex-eletricista, Flávio teve os dois braços amputados porque enquanto trocava um transformador de alta tensão, recebeu uma descarga elétrica de 13.800 volts.  No entanto ele enfrentou os desafios e obstáculos e conseguiu dar a volta por cima. Acompanhe a entrevista que ele concedeu ao blog Deficiente Ciente. 


Qual foi o momento que você considerou mais difícil logo após o acidente?
Acho que o pior que passei foi uma das últimas cirurgias que não deu certo. Eu já estava saturado e cansado de tanta anestesia. Ouvir que não deu certo me deixou arrasado. Aí tive que fazer uma outra muito difícil. Abrir um corte em minha barriga e colocar meu coto lá dentro, por 30 dias. Só depois disso deu certo o enxerto e eu pude colocar minha prótese da esquerda.



Que tipo de prótese você usa?
Hoje uso uma prótese de mão mioelétrica, mexe os dedos. É da marca Otto bock, Alemanha. Fui encaminhado para Sorocaba (SP) para Ortopedia Kamia aonde conheci o técnico de próteses, Sergio Kamia. Fiquei mais de 40 dias para poder aprender a mexer os dedos. Essa prótese me ajuda muito no dia a dia, como por exemplo: usar o computador, ler livros, escovar os dentes e etc



Qual foi a reação da sua família ao tomar conhecimento da sua amputação?
O médico chamou minha irmã Fátima e meu pai. Quando ele falou que teria que amputar, meu pai e minha irmã caíram em prantos, eles não queriam isso. Meu pai teve que assinar aquele papel umas seis vezes. Foi o momento mais difícil para todos.


Como surgiu a idéia de criar o site Amputados Vencedores?
Eu estava em casa entediado, sem fazer nada. Minha esposa tinha três empregos e eu ficava esperando ela chegar. Foi então que ela me anunciou no jornal, pedindo um professor de web para mim. Foi daí que tudo nasceu. Eu fiquei fascinado pelo mundo da internet e nasceu o Site Amputados Vencedores, sendo reconhecido no Brasil e no mundo.




Qual seu relacionamento com a sociedade, no que diz respeito a sua deficiência?
Depois de 12 anos já estou acostumado com olhares positivos e negativos. Sei quando sou aceito ou não. Mas também não fico forçando nada. Cada um tem seu limite e respeito isso. Quando chego em algum lugar eu já entro com a atitude de “estou bem e sinto-me igual à você”. É assim que eu penso.



Como você vê a questão da acessibilidade em nossa sociedade?
É uma grande luta de várias instituições (associações relacionadas à pessoa com deficiência, órgãos públicos, conselhos regionais de engenharia e arquitetura e as próprias pessoas com deficiência). Como viajo o Brasil fico analisando a acessibilidade nas cidades onde passo. Muitas, inclusive na capital são uma lástima. Fico pensando como seria diferente com um administrador público mais envolvido com a causa. Aqui em Londrina foi criada uma Diretoria de Acessibilidade, vinculada ao gabinete da Prefeitura de Londrina. Em uma das experiências, o diretor Zezinho levou o prefeito de olhos vendados ao terminal de ônibus. Foi aí que ele pode sensibilizá-lo. Também temos a Adefil (Associação dos Deficientes Físicos de Londrina), que na figura de seu presidente Paulo Lima executa diversas ações em nossa cidade. Deveríamos ter isso em outras cidades.




Como é a experiência de realizar palestras?
Para mim foi maravilhoso. Falar sobre segurança no trabalho em empresas Multinacionais e Nacionais é Fantástico, assim consigo conscientizar os trabalhadores. Hoje chegamos a 234 palestras, Nunca pensei que aquele telefonema mudaria minha vida. Quando Amilton Antunes de uma empresa mutinacional pediu para que eu fizesse um depoimento em sua empresa, vacilei muito, mas ele instistiu e eu fui. Ainda bem que ele insistiu. Fico muito feliz ao ver a reação das pessoas quando conto minha história de vida. Tem aqueles que choram, se alegram, me abraçam e agradecem. Só posso realmente estar feliz com essa recepção. Para um jovem que estava à beira da morte, depois ficou sem os dois braços, noivou, casou e foi pai, isso é tudo de bom.




Conte um pouco sobre seu livro “Amputados Vencedores: porque a vida continua...”
Escrever o livro não foi uma experiência fácil. Sabíamos que queríamos contar nossa história, mas não sabíamos como. Doze páginas foram escritas em 2001 e ficaram esquecidas. Foi somente em 2008 que eu e minha esposa nos dedicamos a escrevê-lo. As palestras ajudaram muito, pois ficou mais fácil compilar minha história, já que falava dela várias vezes. Quando conhecemos o Sérgio da Editora Nobel em 2006, ele já foi logo falando: “quando você escrever seu livro pode mandar para nós que vamos publicar”. Ele realmente cumpriu sua palavra. E isso é outro sonho. Como é bom saber que poderei ajudar outras pessoas com meu depoimento e tornar seu sofrimento um pouco menor, pois há vida após a amputação.


Como é o relacionamento com sua esposa e filho?
Enfrentamos cada dia com muita determinação. Eu agradeço a Deus a família que tenho, pois estão sempre ao meu lado. São eles que cuidam de mim e fazem o meu dia ser menos penoso. Temos conflitos, mas isso faz parte da vida. São com eles que crescemos. Já faz sete anos que sou pai, e cada abraço do meu filho é algo maravilhoso para mim. Ele me encanta e faz meu dia ficar melhor. Todos os dias abraço muito minha esposa e a beijo. Digo que a amo e ligo várias vezes para ela. Não temos segredos e decidimos tudo em conjunto. 




Que mensagem você deixaria para as pessoas com deficiência?
Todo ano acontece a feira Reatech em São Paulo, participe. Lá existe várias revistas como por exemplo, Incluir, Sentidos, Reação,Cipa e Proteção, Dr Nacir Sales do programa Dr.negociação que é um grande incentivador dos deficientes.
Nunca desistam de viver e agradeçam cada dia de suas vidas. Somente o oxigênio já é um presente de Deus. Também digo para não ficar em casa isolado do mundo. Saia, passeie, aproveite os momentos. Coloquei um vídeo no youtube mostrando meu passeio num pesqueiro. Eu estava segurando uma vara de pescar e coloquei o título “amputado também pesca”. Fiquei surpreso com o número de visitas que recebi, foram 3.000 visitas. Eu queria mostrar que vale a pena sair de casa mesmo com a deficiência que temos.
Reprodução: Deficiente Ciente



Reprodução: Amputados Vencedores

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